A adolescência nas séries de TV

Séries como Adolescência e Evilside revelam que essa passagem para a vida adulta está em constante discussão e nem sempre com uma conclusão positiva 

Adolescência e Evilside (Fotos: Reprodução)
Adolescência e Evilside (Fotos: Reprodução)

É muito comum nas séries de TV que focam na adolescência, mostrar os tradicionais problemas dessa fase do crescimento, como os problemas de autoafirmação, bullying, questões amorosas, dúvidas sobre carreira e questões sobre identidade sexual. Por uma questão prática, nenhuma série mergulha de cabeça nesses temas. Muitas vezes, por receio de levantar alguma polêmica que possa desagradar o telespectador. Mas algumas ousam. 

Dois lançamentos recentes tocam nesses vespeiros, principalmente sobre questão de comportamento e relações interpessoais. É claro que cada uma delas aborda essas questões sob um prisma social. O interessante é que, mesmo feitas e produzidas em países diferentes, as semelhanças com casos que são relatados pelos noticiosos acabam por lembrar, como diria o teórico da Comunicação, Marshall McLuhan, que vivemos numa aldeia global.  

As duas séries, Adolescência (Netflix) e Evilside (Looke) mostram situações do dia a dia vividas por jovens de classe social baixa e uma situação que os levou ao limite. Coincidentemente, Jamie Miller (Owen Cooper), de Adolescência, e Joanna Hakala (Olivia Ainali), de Evilside, estão sendo acusados de envolvimento na morte de uma colega de escola. Não vamos entrar em detalhes sobre essas histórias, pois isso seria dar informação que o leitor vai conseguir vendo a série. 

A questão é como dois jovens, com pouca diferença de idade, acabam virando alvo da lei após serem expostos por terem comportamentos “diferentes” do jovem considerado “normal”?  

Em 1961, o filme Infâmia, dirigido por William Wyller e estrelado por Audrey Hepburn e Shirley McClaine, mostrava como uma informação falsamente disseminada por uma adolescente, leva a morte de uma das professoras. Algo similar ao que aconteceu com o desagradável Caso da Escola de Base, nos anos 80, que acabou com a carreira e a vida dos donos dessa escola paulistana, envolvida num falso caso de exploração sexual de crianças.  

Não é o trágico resultado que se coloca aqui, mas como a situação foi manipulada, colocando a suposta ingenuidade a serviço de uma ideia ruim. Uma adolescente, contrariada, manipula contra as duas professoras, usando outra adolescente como mensageira do caos. É o que vemos nas duas produções, tanto a americana (adolescência) como a finlandesa (Evilside). Os dois personagens acabaram sendo colocados nos holofotes após mostrarem sua fragilidade emocional frente ao resto da sociedade. 

Enquanto Jamie é assediado para “tomar” decisão em relação a uma colega de classe que o tem ignorado, Joanna é caçoada pelo grupo liderado pelo garoto por quem nutre uma secreta paixão. Em cada um dos casos, a manipulação para deixar essas duas almas suscetíveis às suas próprias fraquezas é um reflexo do que acontece hoje na nossa “moderna” sociedade tecnológica. Se, por um lado, as redes sociais ajudam a desmentir notícias falsas que parte da imprensa insiste em divulgar, ela também é a base para transformar a vida de pessoas numa grande dor de cabeça e o silêncio total. 

 A intensidade com que cada um desses personagens é colocado em rota de colisão com um destino cruel, faz com que o espectador comece a questionar onde é o primeiro passo para evitar o pior. Jamie é filho de um casal de classe média convencional, tem uma irmã que cuida dele. Só que a pressão dentro da escola pelos colegas, o leva a cometer um ato impensável. 

Já Joanna é colocada como principal responsável de um crime envolvendo seu colega de escola e sua secreta paixão. De um momento, aquela filha de um pescador local, que fora abandonado pela esposa o obrigando a ser pai e mãe ao mesmo tempo, tem atitudes questionáveis, especialmente depois da tragédia anunciada. 

Não se pode tomar como verdade final cada uma das resoluções das séries Evilside e Adolescência. Infelizmente, cada uma delas traz um retrato triste do que acontece quando pais não assumem a educação dos filhos dentro de casa, achando que será na escola que tudo será resolvido.  

A vida segue um fluxo diferente de nossas expectativas e sonhos. Talvez começar a encarar a “realidade” descrita nessas séries seja um caminho para compreender melhor o que é — ou poderá ser — uma sociedade mais justa e menos complicada. E a vida continua… 

Paulo Gustavo Pereira 

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