Vale das Sombras: um amargo pesadelo 

Filme do espanhol Salvador Calvo mostra a ingenuidade das pessoas visitando países do terceiro mundo onde nem tudo são imagens paradisíacas 

Miguel Herran em Vale das Sombras (Foto: Reprodução)
Miguel Herran em Vale das Sombras (Foto: Reprodução)

Quando terminei de assistir ao Vale das Sombras, a imagem que mais identifica a ideia do filme é a da eterna ingenuidade do ser humano quando visita um lugar visualmente bonito, mas que esconde arestas que podem ferir mortalmente. Foi essa ingenuidade que levou um grupo de quatro amigos a se aventurar numa viagem de canoa num rio do interior da Georgia, antes que toda a região fosse inundada para a construção de uma represa. 

Estou me referindo ao clássico Amargo Pesadelo, filme de 1972 dirigido por John Boorman, e estrelado por Burt Reynolds, Jon Voith, Ned Beatty e Ronny Cox. Os quatro amigos passam um bom tempo navegando em águas tranquilas até se deparar com uma dupla de moradores da região, que transforma o passeio num violento pesadelo.  

É o que acontece com o casal de namorados Quique (Miguel Herran) e Clara (Susana Abaitua) e o filho dela, Lucas (Ivan Renedo). O trio viaja para o interior da Índia, para conhecer a região do Himalaia. No caminho, eles encontram outros turistas que sugerem uma caminhada até Manali, uma pequena vila onde poderão conhecer o “verdadeiro” Himalaia. Inspirado por uma festa regada ao mais puro haxixe, Quique convence Clara a fazer a trilha até Manali.  

E eles não chegam ao seu destino… 

Durante a noite, sua barraca é atacada, com trágicas consequências. Quique é resgatado e levado para uma pequena aldeia religiosa, onde se recupera dos ferimentos sofridos pelo ataque. Ele também conhece Prana (Alexandra Masangkay), que vai ajudar o estrangeiro a se recuperar. O objetivo de Quique é bem simples: sair daquele lugar e tentar viver sua vida com um trauma assustador em seu passado. 

A estrutura do filme construído por Salvador Calvo com o roteiro de Alejandro Hernadéz não é um guia de como se comportar em países do terceiro mundo onde, muitas vezes, é possível esquecer que a pobreza e o crime estão nas sombras das belas paisagens e locais idílicos. É um filme simples sobre se deixar levar pelas aparências, achando que existe um pote de moedas de ouro no final do arco-íris. 

Tudo o que Quique quer fazer é sair daquele lugar, denunciar o que aconteceu e voltar para a Espanha e contar para os pais de Clara que ela não vai voltar mais. Não é, contudo, o retorno triunfal de um sobrevivente. Todas as suas feridas, físicas e emocionais, vão acompanhá-lo no tortuoso caminho de volta, com rios congelados, avalanches e outros obstáculos naturais. 

Quando se compara Amargo Pesadelo com Vale das Sombras, o ideal de “enfrentar” a natureza com um sorriso nos lábios cai por terra quando um obstáculo inimaginável se choca com esse idealismo. Não é apenas o choque cultural, especialmente do ocidental frente ao terceiro mundismo. Mas o choque de descobrir tragicamente que se deixar levar pelo idealismo pode trazer consequências avassaladoras. 

No apagar das luzes, Vale das Sombras e Amargo Pesadelo mostram que pode existir luz no final de uma cansativa jornada. Mantê-la, porém, é outro desafio. Assista a fascinantes aventuras, no Looke

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