Tubarão: 50 anos e ainda assusta! 

O filme que inaugurou os campeões de bilheteria do verão americano comemora seu cinquentenário mostrando que o sucesso não envelhece

Tubarão (Foto: Reprodução)
Tubarão (Foto: Reprodução)

Você pode não acreditar, mas esse filme feito antes da Internet, dos smartphones, das redes sociais, levou milhares de pessoas ao redor do mundo para sentir o pavor de nadar numa praia. Baseado no best-seller seller de Peter Benchley, Tubarão revelou ao mundo o talento do jovem cineasta Steven Spielberg que, com pouco mais de 27 anos de idade, mostrou ao mundo que criatividade é fundamental para criar alguns dos melhores momentos do cinema. 

Por que, depois de 50 anos, Tubarão ainda é ainda um dos filmes primordiais para entender a força do cinema? Não é uma resposta fácil, mas a redação do Pipoca Online pesquisou e encontro 50 razões para você conhecer esse fenômeno cinematográfico. 

Confira: 

  1. Steven Spielberg não tinha entendido a trilha sonora criada por John Williams para o filme, especialmente a música que precede os ataques. Felizmente, o maestro e compositor do primeiro longa de Spielberg, A Louca Escapada (1974), mostrou na prática o impacto daquela música no filme. A trilha de John Williams foi um dos componentes para o sucesso de Tubarão
  1. O filme foi o maior sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, assistidos por cerca de 67 milhões de espectadores, transformando-se no primeiro grande sucesso do verão americano e criando o termo blockbuster (arrasa-quarteirão) para os filmes de sucesso nesta época do ano. 
  1. Tubarão quebrou a regra de Hollywood de não lançar nenhum filme durante o verão porque o americano não ia ao cinema durante suas férias. Hoje, o filme de verão tornou-se um item importante nas férias da família americana. 
  1. A frase que o xerife Brody diz ao ver pela primeira vez o tubarão, “Você vai precisar de um barco maior”, eternizado na cultura pop, foi improvisada por Roy Scheider. 
  1. Assim que o livro de Peter Benchley chegou à lista dos dez mais do jornal New York Times, os produtores Richard D. Zanuck e David Brown, responsáveis pelo vencedor do Oscar, Golpe de Mestre (1973), compraram os direitos para adaptar para o cinema. Além de um bom acordo financeiro, Benchley acabou ganhando uma participação especial no filme, como o repórter que está na praia quando o tubarão ataca novamente. 
  1. Spielberg batizou o tubarão de Bruce, em homenagem ao seu advogado, Bruce M. Ramer. O nome foi usado novamente em 2003, na animação Procurando Nemo, para o tubarão branco que faz parte do grupo de “amigos” de Dory, o peixe sem memória. 
  1. Bruce só aparece no filme em quatro minutos somados. 
  1. A atriz Lee Fierro, que faz a mãe da segunda vítima humana (não vamos esquecer do cachorro na praia, Pipit), acertou o rosto de Roy Scheider 16 vezes em que fez a cena no píer. Segundo o ator, foi o trabalho mais doloroso que ele já havia feito. 
  1. Os três tubarões mecânicos construídos para o filme custaram cerca de 250 mil dólares cada. George Lucas, ao visitar a locação do filme do amigo, disse que se conseguissem fazer o tubarão funcionar direito, o filme seria um grande sucesso. George Lucas, o boca santa.  
  1. O roteiro original escrito por Carl Gotlieb mostrava a morte de Quint (Robert Shaw) semelhante ao que acontece como capitão Ahab, no clássico Moby Dick. Para dar uma carga dramática nesse momento do filme, o roteiro mostra Quint sendo devorado numa menção ao incidente no USS Indianápolis comentado pelo dono do Orca num momento clássico do filme. Peter Benchley brigou para manter sua ideia original. Acabou sendo expulso das filmagens. 
  1. A sequência inicial da morte da jovem interpretada por Susan Backlinie, a primeira vítima de Bruce, foi feita durante três dias. Ela foi presa a cordas que foram puxadas por dois grupos de contrarregras, para dar a noção de que a personagem estava sendo mordida pelo tubarão. 
  1. A história de Quint sobre o USS Indianapolis foi concebida pelo dramaturgo Howard Sackler, ampliada pelo roteirista John Milius e reescrita por Robert Shaw após um desentendimento entre os roteiristas Peter Benchley e Carl Gottlieb. Shaw apresentou seu texto, e Benchley e Gottlieb concordaram que era exatamente o que era necessário.  
  1. O tubarão que é morto por pescadores era um peixe verdadeiro trazido da Florida. Mas ao ser pendurado pela cauda para a sequência do filme, ​​seus órgãos internos se soltaram e se acumularam na parte de trás da garganta. O cheiro no local ficou insuportável. 
  1. Por causa dos constantes problemas com o tubarão mecânico, Spielberg teve que usar sua criatividade para criar a tensão necessária nas cenas em que o peixe deveria aparecer. Os quatro minutos de cenas com Bruce no filme inteiro foi considerado pelos produtores um milagre da criatividade. 
  1. As cenas submarinas que mostram o tubarão atacando a gaiola, na qual o oceanógrafo Matt Hooper (Richard Dreyfus) entra para tentar arpoar o monstro marinho, foram cenas reais. Elas foram filmadas na Austrália, por uma equipe especializada em filmar tubarões brancos, muito comuns naquela região. 
  1. A escolha do elenco final de Tubarão foi outro processo complicado na produção do filme. Além da demora de escolher quem faria o xerife Brody, menos de dez dias do início das filmagens, os produtores ainda não tinham os nomes de quem faria Hooper e Quint. 
  1. O programa Caçadores de Mitos, do Discovery, testou vários momentos do filme, concluindo: um tiro num tanque de ar comprimido não explode; um tubarão branco não tem força para puxar um barco como o Orca para trás; ele tem força para mergulhar com um barril nas costas, mas não por muito tempo. 
  1. Spielberg decidiu que queria filmar as sequências aquáticas sob o ponto de vista de quem está nadando. Para isso, o diretor de fotografia Bill Butler criou equipamentos para facilitar as filmagens, incluindo um suporte para manter a câmera estável independentemente da maré e uma caixa de câmera submersível selada. 
  1. A história que Quint conta sobre suas experiências a bordo de um cruzador que afundava é uma versão fictícia do cruzador real da classe Portland, USS Indianapolis, da Segunda Guerra Mundial. Dos 1.196 tripulantes a bordo, apenas 316 sobreviveram, enquanto 300 morreram durante o naufrágio e os outros 579 morreram por exposição, desidratação, ingestão de água salgada e alguns ataques de tubarão. A maior parte dos diálogos do filme foi escrita por Robert Shaw.  
  1. Fã confesso do mestre do suspense Alfred Hitchcock, Spielberg usa a mesma técnica de avançar e afastar o zoom para mostrar a reação de Brody ao ver o pequeno Alex ser devorado pelo tubarão. Também conhecida como Tomada do Trombone, essa técnica foi criada pelo diretor de efeitos visuais, Irmin Roberts, para o filme Um Corpo que Cai (1958), ao mostrar o ponto de vista do personagem de James Stewart ao sentir vertigem. 
  1. O efeito sonoro parecido com o “rugido de dinossauro”, durante a cena da carcaça do tubarão afundando no final do filme, é o mesmo som utilizado no filme Encurralado (1971), telefilme dirigido por Spielberg, quando o caminhão cai no abismo. O efeito sonoro foi emprestado do filme No Mundo dos Monstros Pré-Históricos (1957). 
  1. Tubarão foi eleito o sexto filme mais assustador de todos os tempos pela revista Entertainment Weekly. 
  1. Os produtores Richard D. Zanuck e David Brown adquiriram os direitos de filmagem do romance por US$ 175.000. O acordo também incluía o rascunho de Peter Benchley na adaptação para o cinema. O roteiro era muito fiel ao livro, acabando por ser rejeitado por Spielberg. 
  1. O farol, que aparece nas sequências finais do filme, é um farol real em Martha’s Vineyard, onde as filmagens ocorreram.  
  1. O tubarão foi classificado como o décimo oitavo maior vilão na lista de 100 Heróis e Vilões do American Film Institute. 
  1. O diretor Steven Spielberg atribuiu muitos problemas ocorridos durante a produção do filme ao seu perfeccionismo e à sua inexperiência. O perfeccionismo o levou a filmar no mar com um tubarão de tamanho real, no lugar de fazer isso em estúdio. E sua inexperiência o deixou arrogante achando que poderia controlar a natureza ao seu redor.  
Bastidores de Tubarão
  1. Após mais de cem dias de produção em Martha’s Vineyard, os moradores inicialmente curiosos com o trabalho de Hollywood em suas praias começaram a ficar com o saco cheio daquele povo esquisito de cinema. Esta foi a primeira vez que Martha’s Vineyard foi usada como locação para um longa-metragem. 
  1. Na escolha do elenco, Peter Benchley queria Robert Redford, Paul Newman e Steve McQueen. Enquanto Spielberg tinha os nomes de Lee Marvin e Sterling Hayden para o papel de Quint. O papel ficou com o britânico Robert Shaw, que havia trabalhado com Zanuck e Brown em O Golpe de Mestre
  1. Robert Shaw cantou a música “Farewell Spanish Ladies” enquanto estava no cais com Hooper e Brody, carregando o barco para capturar o tubarão. A canção é uma canção tradicional britânica, não da Nova Inglaterra. Mas Shaw mudou a letra para deixar a canção mais americana. Ela também está no filme Moby Dick. “Farewell Spanish Ladies” também é cantada em Moby Dick (1956), na série de TV britânica The Ladies (1956), cantada pelo próprio Robert Shaw. 
  1. Tubarão foi o primeiro de três que Steven Spielberg transformou em sucesso de bilheteria. Depois seria E.T. – O Extraterrestre (1982) e Jurassic Park (1993). Tubarão perderia o status para Guerra nas Estrelas, em 1977; E.T.  para Jurassic Park, e ele por sua vez, perderia para Titanic (1997). 
  1. Balanço final das mortes no filme: cinco pessoas, um cachorro e dois tubarões. 
  1. Muitos atribuíram o sucesso de Tubarão ao trabalho da veterana montadora Verna Fields, que acabou ganhando o Oscar de Melhor Montagem pelo filme. Por isso, Spielberg decidiu não usar o trabalho de Verna em seus próximos trabalhos como Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), 1941: Uma Guerra Muito Louca (1979) e Os Caçadores da Arca Perdida (1981). Verna Fields faleceu em 1982. 
  1. Nos créditos iniciais, Spielberg usa uma captação de áudio distorcida de pássaros grasnando sobre o logotipo da Universal dos anos 1970. Esta é uma homenagem direta à abertura de Alfred Hitchcock para Os Pássaros (1963), que usa os mesmos sons sobre o logotipo da Universal daquela época. 
  1. Spielberg detestava a aparência falsa do tubarão, então o filmou de ângulos estranhos, debaixo d’água, apenas por alguns instantes; tudo para impedir que o público o visse bem. O jovem diretor estimou na época que o roteiro final tinha um total de 27 cenas que não estavam no livro. 
  1. A placa que Hooper remove do corpo do tubarão tem o número 007. Isso é uma referência ao fato de Steven Spielberg sempre ter o desejo de dirigir um filme de James Bond, sendo um fã da franquia. Robert Shaw interpretou o assassino da Specter, Red Grant, no filme Moscou Contra 007 (1963). Spielberg chamou Sean Connery para trabalhar em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). 
  1. Após o término das filmagens, Steven Spielberg passou uma noite em um hotel em Boston antes de voar de volta para Los Angeles, onde teve um ataque de pânico devido ao estresse que o acometia há meses. Ele também sofreu pesadelos nas semanas seguintes, enquanto ainda estava no oceano filmando, não apenas devido ao estresse das filmagens, mas também porque dormia em um colchão d’água, cujo movimento o lembrava inconscientemente de estar em um barco no mar. 
  1. Antes de se tornar um sucesso no cinema, o projeto de adaptação do livro de Peter Benchley estava sendo planejado pela Universal como uma série de TV. A ideia é ter uma lista de convidados especiais que seriam devorados a cada episódio. Felizmente, o projeto da TV foi abandonado. Assim como também foi abandonada a ideia de treinar um tubarão branco para o filme. 
  1. Durante as cenas na praia lotada, os figurantes não foram informados sobre o que fariam ou sobre o que o filme tratava. Quando o chefe Brody começou a gritar sobre um tubarão na água, a reação de pânico dos banhistas foi completamente genuína, pois pensaram que havia um tubarão de verdade na água. 
  1. Um dos grandes momentos vergonhosos para Steven Spielberg foi sua esperança de ser indicado ao Oscar por Tubarão. Uma equipe de reportagem registrou sua reação enquanto assistia à transmissão dos indicados e seu nome não constava na lista. Tubarão teve quatro indicações, incluindo Melhor Filme, ganhando os Oscars de Montagem, Som e Trilha Sonora. Perdeu para O Estranho no Ninho que também faturou o de Melhor Direção para Milos Forman. 
  1. Tubarão foi o segundo filme de terror indicado ao Oscar de Melhor Filme, depois de O Exorcista (1973). 
  1. Richard Dreyfuss é o único membro do elenco principal a trabalhar com Steven Spielberg novamente, em Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977). No entanto, Roy Scheider estrelou as duas primeiras temporadas de SeaQuest – Missão Submarina (1993), onde Spielberg atuou como produtor executivo.  
  1. A frase deste filme, “Você vai precisar de um barco maior”, foi eleita a trigésima quinta citação cinematográfica pelo American Film Institute (de uma lista de cem). 
  1. O primeiro filme da história a arrecadar mais de US$ 200 milhões nos Estados Unidos e mais de US$ 400 milhões no mundo todo, durante sua primeira exibição nos cinemas. 
  1. Muitos outros filmes de monstros aquáticos foram produzidos após o sucesso recorde deste filme, incluindo Orca: A Baleia Assassina (1977), Tentáculos (1977), Piranha (1978) e Criaturas das Profundezas (1980). Aqui no Brasil, tem a comédia Bacalhau (1976). 
  1. Diversas cenas submarinas foram inspiradas no clássico da ficção-científica, O Monstro da Lagoa Negra (1954). Especialmente a visão da criatura da mulher nadando na superfície da água. A diferença é que o monstro da Lagoa Negra pode ser visto integralmente, enquanto os problemas com o tubarão mecânico obrigaram a produção a ser mais criativo.  
  1. Tubarão tem uma conexão com Moby Dick, o clássico livro escrito por Herman Melville em 1851, com Quint simbolizando o Capitão Ahab, Matt Hooper como Ishmael e o Xerife Martin Brody como Starbuick. 
  1. Em uma cena, Brody, Hooper e Vaughn estão conversando em frente a um outdoor vandalizado quando Vaughn menciona a National Geographic. O outdoor atrás deles tem uma moldura amarela, muito parecida com a borda amarela clássica das revistas National Geographic. A garota que pousou para o outdoor era namorada de Brian De Palma. 
  1. Susan Backlinie (Chrissie, a primeira vítima do tubarão) nasceu em 1º de setembro de 1946. Murray Hamilton (Prefeito Vaughn) morreu no mesmo dia, 40 anos depois, em 1º de setembro de 1986. 
  1. Entre os problemas nos bastidores da produção do filme, uma dor de cabeça do elenco era lidar com o alcoolismo de Robert Shaw. Mesmo respeitado como ator, o álcool foi responsável por frequentes brigas entre o elenco. Segundo Roy Scheider, Robert Shaw era um perfeito cavalheiro até tomar a primeira dose. A primeira tentativa de fazer a cena sobre a questão do USS Indianápolis foi um desastre. Arrependido, Shaw pediu para refazer a cena. O resultado está eternizado na história do cinema. 
  1. Um acidente durante as filmagens fez com que o Orca começasse a afundar. O diretor Steven Spielberg começou a gritar por um megafone para que os barcos de segurança próximos resgatassem os atores. John R. Carter, já com água até os joelhos no Orca que afundava, ergueu seu gravador Nagra acima da cabeça e gritou: “Ferrem-se os atores, salvem o departamento de som!”. 

Paulo Gustavo Pereira

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