Quando os principais estúdios de Hollywood decidiram criar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em maio de 1927, o primeiro passo foi criar um prêmio para quem estava por trás e à frente das câmeras, uma premiação para reconhecer o mérito desse jovem setor do entretenimento. Dois anos depois, o épico sobre a Primeira Guerra Mundial, Asas, recebeu o primeiro Oscar de Melhor Filme do Ano.
Nos quase 100 anos de premiações, o Oscar levantou bandeiras, polêmicas, crises, situações das mais inusitadas ou complexas, mas sempre foi um prêmio almejado por todo mundo que decidiu seguir carreira na lendária Sétima Arte. O curioso é que, em todos os anos, quando sai a lista dos indicados ao Oscar, a discussão de quem entrou e quem ficou de fora para ganhar o Academy Award sempre rende discussões e polêmicas. É possível listar uma dezena de profissionais que ficou fora da lista de indicados pelas mais diversas razões, como agora em 2025 com Nicole Kidman e Angelina Jolie que não conquistaram uma vaga como Melhor Atriz, por Babygirl e Maria Callas, respectivamente.
Outro exemplo, que pode ser considerado um clássico, é o filme de Steven Spielberg, Tubarão. Lançado em 1975, foi um dos grandes sucessos do verão americano e colocado entre os cinco principais finalistas do Oscar. Mas Spielberg foi totalmente ignorado.
Ao mesmo tempo, é curioso notar que alguns gêneros também têm dificuldade de serem aceitos pelos membros da Academia. E claro, a repercussão sempre é um alerta para corrigir o rumo.
Em 2008, Batman – O Cavaleiro das Trevas, dirigido por Christopher Nolan teve oito indicações e acabou ganhando como Melhor Montagem de Som e Ator Coadjuvante (Póstumo), para Heath Ledger. O filme e o diretor foram deixados de lado porque o filme, mesmo com todos os elogios, era uma fantasia baseada em gibis! A crítica ao “esquecimento” foi tão grande que, no ano seguinte, os membros decidiram que o Oscar de 2010 teria dez filmes na lista de indicados.
A lista final de 2010 tem curiosidades que mostram como os membros são parciais em suas escolhas. O drama Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow, ganhou como Melhor Filme, em detrimento a Avatar, de James Cameron, que já tinha ultrapassado a casa do bilhão de dólares em bilheteria.
E por que tudo isso? Foi a estratégia que a Academia começou a usar para acrescentar gêneros que não são “populares” entre os votantes, como ficção, terror, fantasia e suspense, e assim, agradar ao público em geral e aos que criticam as rígidas regras. Ironicamente, os critérios da escolha dos filmes mudaram nos últimos anos, em que produções com propostas originais acabaram “conquistando” a Academia, como o filme coreano Parasita (2019) e a ficção Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022).
Na história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, os filmes de apelo mais populares, e que estão dentre os gêneros também populares, nadam e não chegam à praia do mérito cinematográfico. Especialmente porque é difícil reconhecer a qualidade dos filmes populares, aqueles que trazem dinheiro às bilheterias e que, num segundo momento, ajudam a financiar ideias mais acadêmicas, sem ironias. Top Gun – Maverick, por exemplo, faturou mais de um bilhão de dólares, mas quem levou o Oscar foi Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. Podemos colocar uma série de bons filmes que poderiam ser honrados pelos membros da Academia. Mas isso fica para uma outra vez…