Concorrente ao Oscar com 10 indicações, o filme estrelado por Adrien Brody mostra um personagem real ao longo de 50 anos, quase a duração do filme
Adrien Brody e Felicity Jones em O Brutalista (Foto: Reprodução)
Não se pode criticar uma obra pelo tempo que dura na tela. Um conhecido dirigente da área de exibição afirmou uma vez que desconfia de filmes que tenham menos de 80 minutos de duração. São filmes que querem se livrar do público de uma sessão para começar rapidamente outra.
Pode ser uma afirmação aleatória, já que a duração do filme sempre foi importante para contar a história proposta. O que também pode ser uma faca de dois gumes, já que o roteirista ou o diretor podem achar que só aquele texto não vai conseguir representar a ideia de como contar aquela história.
O que não faltam são filmes que tem uma duração temporalmente adequada, com um desenvolvimento tão peculiar que parece estarmos vendo uma minissérie de dez capítulos em uma única sessão. E posso afirmar de cátedra porque vi numa das Mostras de Cinema de São Paulo a minissérie Berlin Alexanderplatz, de Werner Fassbinder, com mais de dez horas de duração. Ahh, a juventude cinéfila…
Desconhecendo totalmente o tema do indicado ao Oscar, O Brutalista, entrei no cinema apenas questionando (como sempre), porque uma boa maioria dos cineastas não consegue contar uma história dentro de 120 minutos. Só sabia que o filme tinha 3 horas e 26 minutos de duração, com um intervalo de 15 minutos. Será que a História Versus Duração traria um resultado positivo ao final da sessão?
É muito legal quando você descobre um filme pela primeira vez, sem ter visto um trailer ou lido alguma informação sobre o que se trata. É algo complicado já que somos bombardeados por todos os lados com informações sobre obras cinematográficas. Desde o Oscar 2023, decidi não saber nada de alguns concorrentes como Anatomia de uma Queda e Zona de Interesse. Fantásticas obras que descobri quadro a quadro.
Com O Brutalista foi exatamente isso.
Quando vi o personagem de Adrien Brody, um refugiado húngaro chegando à Nova York, no pós-Segunda Guerra, lembrei de seu trabalho em O Pianista (2002), que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator. O arquiteto e refugiado húngaro é muito diferente do pianista polonês. Já conclui nos primeiros minutos do filme que o brutalista não teria a ver com sua personalidade, um homem sofrido por causa da guerra que foi obrigado a deixar a esposa (Felicity Jones, de A Teoria de Tudo) na Europa antes de criar a base para um lar na América.
Foi vendo o desenvolvimento do personagem e de seu principal aliado, feito por Guy Pearce, de Amnésia, que percebi que a história não era apenas de um arquiteto, suas dores, amores e ambições. E sim, como ele e sua arte ajudaram a consolidar um estilo arquitetônico nascido no início do século 20, e que ganhou seu auge entre as décadas de 50 e 70. E é sobre Lásló Tóth, personagem de Adrien, que o filme faz uma homenagem.
Agora a grande revelação: são 3 horas e 26 minutos que você não vê passar! Graças ao diretor que fez opções ousadas como uma fotografia que parece um documentário dos anos 50, e o uso de planos-sequências em momentos chaves do filme como a chegada à Ilha Ellis e a revelação da Estátua da Liberdade. São momentos que deixaram a história mais assimilável.
Brady Corbet, que começou a carreira como ator, dirigiu três episódios da minissérie da AppleTV+, Entre Estranhos, com Tom Holland, antes de abraçar essa história com a roteirista e produtora norueguesa, Mona Fastvold. Brady se destacou não apenas com as indicações que O Brutalista recebeu, mas principalmente por mostrar que sabe conduzir uma história densa e sem arestas. Um filme para mostrar personagens fortes como o concreto usado para criar as obras brutalistas ao redor do mundo.
Em tempo: O Brutalista entra no rol de grandes produções que tem mais de 3 horas de duração como Cleópatra (1963), com 4 horas e 8 minutos; E o Vento Levou (1939), com 3 horas e 46 minutos; Lawrence da Arábia (1962), com 3 horas e 42 minutos; e Os Dez Mandamentos (1956), com 3 horas e 40 minutos.