O ciclo sem fim dos reboots de Hollywood 

Cada vez mais, Hollywood está pegando sucessos do passado na telinha para tentar a sorte com uma nova versão, às vezes, usando o mesmo elenco. Dá certo? 

Jornada nas Estrelas original e o reboots Jornada nas Estrelas – Novos Mundos
Jornada nas Estrelas original e o reboot Jornada nas Estrelas – Novos Mundos (Fotos: Reprodução)

A rede NBC está trazendo para sua programação um reboot da série Royal Pains, que foi sucesso durante 8 temporadas no canal USA Network, a partir de 2009. Os Estados Unidos também foi a casa de séries como Monk, Operação Miami, Crimes do Colarinho Branco, entre outras.  

Royal Pains mostra um excelente médico-cirurgião de um grande hospital de Nova York, que sofre um revés profissional, obrigando-o a sair da cidade. Seu irmão o convida a passar um final de semana nos Hamptons, a região da costa leste americana dos ricos e famosos. É lá que o destino leva o médico a criar um serviço de atendimento pessoal para esses ricos e famosos. 

Feito por Mark Feuerstein, a série era um bem-humorado drama médico, que não pesava a mão quando tratava de problemas médicos mais sérios. É esse espírito que a NBC espera recuperar para sua programação, aliás, trazendo o próprio Mark para reviver o papel do Dr. Hank Lawson para essa nova versão. 

Curiosamente, as emissoras americanas têm usado muito desse expediente de trazer alguns sucessos do passado para dar uma chance às novas gerações de telespectadores de conhecer essas produções. E não estamos falando de franquias, como Jornada nas Estrelas que, saiu da programação da NBC em 1969, ganhando uma nova versão em 1987 (Jornada nas Estrelas – A Nova Geração) e a mais recente, Jornada nas Estrelas – Novos Mundos

É claro que essa tentativa de repovoar a grade de programação com novas versões de séries (reboot) sempre esbarra na base de tudo: boas histórias. Você pode ter grandes personagens, mas se a história não se conectar com o público, mesmo ele não conhecendo a versão original, tudo pode ser um grande tiro na água. 

É um ciclo de tentativa e erro, onde se avalia o potencial de uma antiga série para a audiência daquele exato momento. Um ciclo que parece acontecer a cada duas décadas, com os produtores buscando anos antes, alguma série que tenha potencial de atração. Ou seja, uma produção que, mesmo feita décadas antes, tem um conteúdo capaz de atrair o público jovem daquele período. 

Veja alguns exemplos de como isso vem acontecendo desde a década de 80: 

Suspense: antologia policial criada por Alfred Hitchcock em 1955 e adaptada para 1985, usando os roteiros originais produzidos naquele período. 

Além da Imaginação: antologia de ficção-científica, suspense e fantasia, criada por Rod Serling em 1958. Ganhou três versões ao longo de 50 anos: a primeira em 1985, seguida de 2002 e a mais recente, feita em 2019. 

Quinta Dimensão: a série chegou em 1962 e é uma das melhores antologias de ficção-científica até hoje. Em 1995, o produto Pen Denshan resgatou a ideia e conseguiu deixar a nova versão no ar por sete temporadas. 

As Panteras: a primeira versão estreou em 1976, criada e produzida por Aaron Spelling, e que ganhou uma nova versão em 2011, mas não conseguiu passar da primeira temporada. 

Versões de As Panteras (Fotos: Reeprodução)

A Mulher Biônica: estrelada por Linday Wagner, em 1976, a série é um spin-off de Ciborgue – O Homem de 6 Milhões de Dólares. Mas sua versão de 2007, não empolgou o público, sendo cancelada após 9 episódios. 

Galáctica – Astronave de Combate: chegou em 78, no rastro do sucesso de Guerra nas Estrelas, mas seus custos de produção acabaram derrubando a série depois da primeira temporada. Coube a Ronald D. Moore, criador de Outlander – A Viajante do Tempo, transformar num dos grandes sucessos da ficção do século XXI, com cinco temporadas. 

A Ilha da Fantasia: outra produção de Aaron Spelling, que ficou no ar por sete temporadas, estrelada por Ricardo Montalban e Hervé Villechaize em 1977. A série já teve duas versões: em 2000, estrelada por Malcolm McDowall, e a de 2021, com Roselyn Sanchez, no papel da neta do Sr. Rourke, feito por Montalban. 

Anos Incríveis: a primeira versão feita em 1988 mostrava os dramas e alegrias de uma família de classe média durante os efervescentes anos 60. Na nova montagem, a família de classe média é negra e sujeita às questões raciais do movimento de Liberdades Civis, mantendo, contudo, o texto leve da trama como na versão original. 

Charmed: as aventuras sobrenaturais das jovens bruxas Halliwell, de 1998, seguiu a rota aberta por Buffy: A Caça-vampiros. A nova versão, lançada em 2018, ficou quatro temporadas no ar. 

Dinastia: o drama novelístico sobre o mundo dos ricos e famosos das grandes fortunas no petróleo criou uma das séries mais populares da TV nos anos 90. A nova versão, feita para o streaming (2018), pegou a essência da série original, mas não conseguiu cativar o novo público. 

Kung Fu: a série original estrelada por David Carradine em 1972, mostrava um monge sino-americano vagando pelo oeste selvagem. Na nova versão, a aprendiz de artes marciais é uma jovem que tem ligação com uma seita criminosa atualmente. As duas temporadas da série, lançadas em 2021, foram exibidas pela Max. 

Existem as novas versões que são continuações da série original, onde o personagem principal volta a ser interpretado pelo mesmo ator. Gene Barry fez a primeira versão de Chefe Burke em 1963, e retomou o personagem na versão da série de 1994. Kelsey Grammer, ganhador de vários EMMYs por Frasier (1993), voltou ao personagem na nova série de 2023.  

É claro que, raras vezes, a ideia de fazer um reboot de uma série antiga acaba dando certo, especialmente quando o conceito original da produção é respeitado. É o caso da nova versão de Perdidos no Espaço (2018), inspirada na clássica série de 1965. Toda a ideia de uma família de astronautas perdidos pelo universo conquistou uma nova geração, que acompanhou a história da Família Robinson durante três temporadas. E com a diferença da série original: tem um final interessante. 

Duas séries de ação e aventura dos anos 80, também tiveram a sorte de conquistarem as novas gerações de telespectadores: MacGyver – Profissão Perigo e Magnum. A primeira mostra o jovem prodígio da ciência, Angus MacGyver, trabalhando numa agência de inteligência, numa luta diária contra as forças do mal.  

Sua principal arma é seu vasto conhecimento de tudo. Ele é capaz de fazer uma arma a partir de uma goma de mascar, um clipe de metal e uma pilha velha. A série original chegou às telinhas estrelada por Richard Dean Anderson em 1985, enquanto a sua nova versão, feita por Lucas Till, estreou em 2016. 

Já o detetive do Havai, Thomas Magnum, chegou às telas de TV em 1980, interpretado por Tom Selleck, ficando no ar por oito temporadas. A nova versão, feita por Jay Hernandez, ficou cinco temporadas a partir de 2018. As duas versões foram inspiradas na série dos anos 60, Havai 5-0, onde os deslumbrantes cenários naturais do arquipélago havaiana, ambientavam tramas policiais e de espionagem de alto nível. 

Aliás, se existe uma nova versão de sucesso de uma série antiga, esta é, sem dúvida, Havai 5-0. Criada pelo produtor e roteirista Leonard Freeman, a série estrelada por Jack Lord mostrava o cotidiano de uma unidade especial da polícia do Havai encarregada de crimes graves, casos de espionagem, tráfico de drogas e tráfico humano. A produção, que já foi considerada uma das mais violentas da história da TV americana, ficou 12 temporadas no ar, com 281 episódios exibidos a partir de 1968. 

Coube aos produtores Alex Kurztman e Roberto Orci desenvolverem para a Rede CBS uma nova versão da série de Freeman, trazendo mais ação para o horário nobre da TV, em 2010. Foram dez temporadas mostrando Alex O’Loughlin no papel do comandante Steve McGarret, papel feito por Jack Lord na versão original. O grande diferencial entre as duas séries foi as tramas focadas em organizações terroristas, aliadas ao tráfico de drogas e ao crime organizado nas ilhas havaianas. 

Com tudo isso, é possível achar que a falta de criatividade de Hollywood faz parte do processo de produção. Onde algumas vezes você acerta e outras, o erro enterra o que poderia ser uma boa ideia.  

E a vida continua… 

Paulo Gustavo Pereira

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