In Memoriam – Richard Chamberlain (1934 – 2025) 

O cinema e a televisão dão seu último adeus a Richard Chamberlain, o eterno Dr. Kildare, que faleceu neste final de semana por complicações após um derrame 

richard chamberlain
Richard Chamberlain (Foto: Reprodução)

Em Era Uma Vez Em… Hollywood, Quentin Tarantino expõe uma divertida tese de que todo ator que faz um herói em série de TV, invariavelmente trabalha como vilão. Ao ver a carreira de Richard Chamberlain, nada poderia ser mais verdadeiro e divertido ao mesmo tempo. 

Nascido George Richard Chamberlain, em Beverly Hills, o ator se formou em Artes e História no Pomona Callege, e logo foi convocado para o serviço militar entre 1956 e 1958. Conquistou o posto de sargento e pensou em seguir carreira militar, mas, naquele momento, o exército ainda tinha uma política restritiva a orientação sexual. Richard assumiu publicamente sua homossexualidade aos 69 anos, quando lançou sua autobiografia em 2004, Shattered Love: A Memoir.  

Ao voltar de Seul, Richard decidiu realizar o antigo sonho de se tornar ator de teatro. Ajudou a fundar o grupo Company of Angels, que o ajudou a trabalhar em pequenas montagens de teatro e a conseguir participações especiais em séries como Alfred Hitchcock Suspense, Gunsmoke, Impacto e Brigada 8, até ser chamado para ser o jovem Dr. James Kildare. 

O personagem nasceu nos livros Pulp fiction de Frederick Schiller Faust, na década de 30, fazendo um enorme sucesso entre jovens leitoras. Em 1937, o personagem ganhou sua primeira versão no cinema estrelado por Joel McCrea, no filme Escravos do Dever. Foram mais 15 longas apresentando o jovem médico e seus colegas do Blair General. 

Ao passar nos testes para a nova série baseada nos personagens de Schiller, Richard Chamberlain jamais poderia imaginar como sua vida e sua carreira mudariam ao ser a nova versão do Dr. Kildare na televisão. Assim como o personagem dos filmes dos anos 40, a série focava no dia a dia do jovem interno James Kildare e sua relação com seus pacientes. Ao lado dele estava o veterano Raymond Massey (Daqui a Cem Anos), como o mentor de Kildare, Dr. Leonard Gillespie. É ele quem dá a direção que o personagem de Kildare seguiria, ao dizer no primeiro episódio ao jovem médico: “Nosso trabalho é manter as pessoas vivas, não dizer a elas como viver.” 

A série foi um sucesso de audiência em 1961, levando Richard a ganhar o Globo de Ouro. Curiosamente, ele participaria do crossover entre Dr. Kildare e o drama médico The Eleventh Hour, em 1963. Ele também é o responsável pelo tema de abertura da série, Three Stars Will Shine Tonight, que chegou ao 10º lugar nas paradas de sucesso de acordo com a Billboard.  

Dr. Kildare ficou cinco temporadas no ar e se transformou num grande marco da história da TV americana, ao mostrar o dia a dia dos médicos de um grande hospital, criando base para outros sucessos que viriam como Centro Médico (1969), E.R. (1994), Scrubs (2001), Grey’s Anatomy (2005), entre outras. Aliás, o canal americano TV Land faria uma paródia de Anatomia de Grey, colocando vários personagens de séries antigas neste especial. Richard Chamberlain retornaria ao papel de Dr. Kildare, assim como vários personagens de Julia (1968), M.A.S.H. (1972), O Barco do Amor (1977) e ST. Elsewhere (1982). 

Mesmo depois de fazer sucesso na telinha, Chamberlain continuou trabalhando no teatro, fazendo musicais como Bonequinha de Luxo, A Noviça Rebelde e Minha Bela Dama.  

Sua carreira no teatro, cinema e televisão, sempre foram muito ativas. Lembrando a tese de Tarantino, Richard fez seu primeiro vilão nas telas no grande sucesso mundial Inferno na Torre, de 1974. Para quem não se lembra, ele interpretava um ambicioso empreiteiro que reduziu custos na compra de material para a infraestrutura do mega prédio em São Francisco.  

Enquanto dividia o sucesso entre filmes e teatro, Chamberlain acabou conquistando um espaço forte na televisão ao trabalhar em várias minisséries importantes, o que o levou a ter o divertido apelido de Rei das Minisséries. Entre elas estão Centennial (1978), Shogun (1980), pela qual ganhou o Globo de Ouro, Pássaros Feridos (1983), série que pôs o SBT ganhando a briga pela audiência contra a Globo que exibia Roque Santeiro; o faroeste Dream West (1986); Missão Matar (1988), primeira adaptação do livro de Robert Ludlum, Identidade Bourne, interpretando o assassino sem memória Jason Bourne; A Vida Secreta de Boris Duke (1999) e Barba Negra (2006). 

No cinema, ele esteve em adaptações de sucesso dos livros de Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros (1973), A Vingança de Milady (1974) e A Volta dos Mosqueteiros (1989), em que interpretou o mosqueteiro Aramis, e também os herdeiros gêmeos da corte francesa de O Homem da Máscara de Ferro (1977).  

Ainda no cinema, ele interpretou o personagem Allan Quartermain, criado por Henry Rider Haggard, no século 19, como o grande caçador e explorador no coração da África. Richard faz a nova versão de As Minas do Rei Salomão (1985), e também em Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido, lançado no ano seguinte. 

Após a publicação de sua biografia, os produtores da série Desesperate Wives o convidam para uma participação especial no episódio Passado Distante, da quarta temporada. Ele faz o pai de Linette (Felicity Huffman), que volta a se reencontrar com a filha anos sem contato, e assumindo sua homossexualidade. Ele também esteve em Will & Grace, Chuck e Brothers & Sisters. Seu mais recente trabalho na telinha foi na volta de Twin Peaks, em 2017. 

Ele se mudou para o Havai, onde foi presidente honorário do conselho consultivo da Hawaii Public Television Foundation. Ele dizia que sua mudança o permitiu se dedicar à pintura, especialmente paisagens. Ganhou uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood em 2000. Seu último trabalho no teatro foi no Pasadena Playhouse interpretando o Dr. Sloper na peça Tarde Demais, de Ruth e Augustos Goetz, em 1947. 

Richard Chamberlain teve uma carreira que o levou ao sucesso no teatro, na televisão e no cinema. Hoje, seus fãs sentirão sua falta, como o jovem médico idealista, um aventureiro em busca de um objetivo, e um ator que soube mostrar ao público como é importante saber viver a vida…  

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