Morre aos 91 anos, o ator que interpretou o inspetor Carlos, personagem icônico da série brasileira Vigilante Rodoviário, criada por Ary Fernandes para a TV Tupi

Vigilante Rodoviário é um marco na história da televisão brasileira. Não apenas é a primeira série filmada no padrão norte-americano de produção para a TV, mas a primeira produção que trouxe um personagem do cotidiano da vida pública e o transformou num herói do horário nobre.
A série nasceu da criatividade de Ary Fernandes, ator, roteirista e diretor de cinema, junto ao produtor Alfredo Palácios. Fernandes declarava que sentia falta de um herói brasileiro, 100% nacional, e como também era apaixonado pelo trabalho da Polícia Rodoviária de São Paulo, juntou o útil e o agradável, criando Vigilante Rodoviário.
Ary também foi o responsável pela canção que abre a série, homenageada décadas depois pela banda de rock, Joelho de Porto, no álbum Saqueando a Cidade, lançado em 1983.
Na história da série, o vigilante Carlos tinha resgatado um filhote de pastor alemão, criado para ser um cão policial. Batizado de Lobo, o cão estava para ser expulso da corporação, quando salva uma criança de ser atropelada. Carlos e Lobo acabam fazendo patrulha juntos, criando uma amizade que durou os 38 episódios produzidos para a série.
Nascido na Mooca, Carlos Miranda começou sua carreira cantando em circos itinerantes. Como gostava de atuar, fez o curso de ator no Teatro Popular do Sesi. Sua estreia nos palcos foi na peça Ídolo das Meninas de Gastão Tojeiro, apresentada no teatro Colombo, no Largo da Concórdia, em São Paulo, no final dos anos 50.
Ele também trabalhou na Companhia Cinematográfica Maristela no final dos anos 1950, quando conheceu Ary Fernandes. Ary achava que Carlos Miranda, com sua postura e seu rosto que lembrava Rock Hudson, tinha o perfil certo para interpretar o futuro herói da primeira série de TV brasileira.
Carlos passou por um rápido treinamento na Polícia Rodoviária de São Paulo, que abriu as portas para Ary e sua equipe fazerem a série do Vigilante Rodoviário. Ele aprendeu a pilotar uma Harley-Davidson, modelo 1952, além do Simca Chambord 59, que fazia parte da frota da Polícia Rodoviária de São Paulo. O primeiro episódio, O Diamante Grão Mongol, exibido em março de 1961 pela TV Tupi, mostra Carlos e Lobo enfrentando uma quadrilha internacional de ladrões de joias, que entraram pelo Porto de Santos.
A série foi exibida integralmente na Tupi e reprisada em 1967. Nos anos 70, o trabalho de Ary Fernandes foi para a Globo. Fora do ar por décadas, ela ganhou uma nova chance em 2008, quando o Canal Brasil exibiu 37 episódios restantes do Vigilante Rodoviário, já que a falta de cuidado em sua armazenagem acabou levando a perda de um deles.
Quando a série acabou, Carlos Miranda decidiu seguir numa outra jornada, entrando na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo. Ele se tornou um patrulheiro de verdade, subindo na carreira por seus próprios méritos até se aposentar como Tenente-Coronel. Durante vários anos, ele foi responsável pela área de relações públicas da PRESP.
Ele voltou a atuar como o patrulheiro Carlos, no piloto de uma nova série Vigilante Rodoviário, produzida por Ary Fernandes, com verbas da Embrafilme. Infelizmente o projeto não ganhou as estradas. O personagem do vigilante Carlos faria uma aparição especial, num dos episódios de Águias de Fogo, outra série criada por Ary Fernandes nos anos 60.
Carlos Miranda se aposentou da Polícia Militar, mas fazia aparições com seu Simca Chambord em eventos de fãs da série. Patrono do Automóvel Clube do Brasil, ele também participava de eventos de colecionadores carros clássicos brasileiros, como o seu Simca.
O nosso vigilante rodoviário estacionou, para sempre, sua viatura em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, onde morava. Seu legado, assim como o de Ary Fernandes, pode ser visto no canal streaming Looke, que também tem o piloto de 1978, e a segunda série Águias de Fogo.
É a preservação da memória da TV brasileira…