Hollywood investe novamente numa produção em que o drama dos protagonistas se passa nas pistas de corridas de Fórmula 1, onde as emoções não têm limite de velocidade

As corridas de automóveis sempre foram palco para grandes dramas e aventuras no cinema. Curiosamente, mesmo com toda a emoção envolvida a cada volta da pista, são poucos os filmes que mostram que esse esporte pode ser muito mais do que uma paixão pela alta velocidade. Talvez por isso, há grande expectativa com o lançamento nos cinemas de F1, em que Brad Pitt é um veterano das pistas enfrentando o desafio de encarar uma nova geração de pilotos de corrida.
Não existe um motivo pelo qual existem poucos filmes sobre Fórmula 1. Ou melhor, porque existem poucos filmes sobre corridas em geral. Não existe uma resposta simples como “os americanos preferem a Fórmula Indy e corridas de Stock Car, do que F1”.
As corridas de automóveis existem desde que Henry Ford criou o Modelo T, em 1908. Em 1913, o comediante Fatty Arbuckle estrelou The King of Speed, que usou cenas de corridas de automóveis que aconteciam nos Estados Unidos. No ano seguinte, Charles Chaplin levou Carlitos para as pistas na comédia Corridas de Automóveis para Meninos. O filme marcou a primeira vez em que o vagabundo criado por Chaplin aparecia em público.
Somente em 1930, o cinema ganhava seu primeiro filme mostrando algo diferente das corridas: o som sem retoques, dos motores roncando nas pistas com a fantástica velocidade de 50 quilômetros por horas. O filme é Amor de Atleta, estrelado por Richard Arlen, um piloto que se apaixona por Mary Brian, filha de um outro corredor.
Na história do cinema hollywoodiano, existem grandes momentos construídos nas pistas de corrida. Uma das memoráveis citações é do filme Agora sou Tua, de 1950, onde Clarke Gable, um astro das pistas, se apaixona pela cronista esportista feita por Barbara Stanwick. Se você assistiu a Gremlins, dirigido por Joe Dante, em 1984, pode conferir as cenas desse filme assistido por Gizzmo, o monstrinho camarada. Em tempo: Agora sou Tua é um dos filmes prediletos de Joe Dante.
As décadas de 60 e 70 trouxeram para o grande público três dos maiores cenários de alta velocidade ao redor do mundo: Grand Prix, de John Frankenheimer, feito em 1966; 500 Milhas, estrelado por Paul Newman e Roberg Wagner, de 1969; e 24 Horas de Le Mans, produzido e estrelado por Steve MacQueen, em 1971.
Para mostrar o realismo de uma corrida de Fórmula 1, John Frankenheimer desenvolveu um projeto para a MGM que mostraria os bastidores da corrida de Fórmula 1, um esporte de alta competividade no qual o drama pessoal pode ser a balança para o sucesso ou o fracasso. O cineasta já havia começado a filmar cenas das competições realizadas na Europa quando foi aconselhado a conversar com Enzo Ferrari, o lendário barão das corridas de F1.
Foi mostrada a seriedade do projeto que Enzo não apenas abençoou, como liberou a equipe de Frankenheimer para filmar dentro da Ferrari. O resultado não é apenas um visual que coloca o espectador junto aos pilotos, mas uma história de vencer ou perder nunca vista antes no cinema. É o primeiro clássico do gênero.
Já 500 Milhas, foca no desejo do personagem de Paul Newman de conquistar uma das maiores provas de alta velocidade dos Estados Unidos, as 500 milhas de Indianápolis. O problema é que sua obsessão pela vitória o está afastando de sua esposa, interpretada por Joanne Woodward (esposa na vida real). Ao mesmo tempo, que a está jogando para os braços de seu rival nas pistas, Robert Wagner. Infelizmente, muito drama para pouca corrida.
O lado da intensidade de um evento esportivo sobre quatro rodas está registrado em 24 Horas de Le Mans, de 1971. Le Mans é uma das provas de resistência, não apenas de alta velocidade, mas pela duração da prova que batizou essa corrida que acontece no interior da França. Aqui, Steve McQueen tem no piloto alemão feito por Sigfried Rauch, seu principal adversário. O grande destaque do filme, além da briga pelo primeiro lugar, é a fantástica trilha sonora de Michael Legrand, indicada ao Globo de Ouro.
O cinema brasileiro também contribuiu para a alta velocidade das pistas em 1971, quando o astro da juventude da época, Roberto Carlos, estrelava A 300Km por Hora. Foi o terceiro filme estrelado por ele, com direção de Roberto Farias, Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968) e Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa (1970). No filme, Roberto é um mecânico de carros de corrida que sonha em ser piloto, quando um golpe do destino o coloca atrás do volante numa prova que vai definir o seu futuro.
Também faz parte desse cenário de alta velocidade voltar aos tempos das comédias mudas, colocando pilotos, carros e a torcida em situações muito engraçadas. O melhor exemplo disso é a comédia de Blake Edwards (A Pantera Cor de Rosa), A Corrida do Século (1965), em que o herói Tony Curtis enfrenta o vilão Jack Lemmon, num duelo que atravessa vários continentes. O sucesso do filme foi fonte de inspiração para a Hanna-Barbera criar outro grande momento da animação, Corrida Maluca, de 1968.
Foi também em 1968, que a Disney decidiu entrar nas pistas de Nascar para contar a divertida e emocionante história do fusca Herbie e do piloto feito por Dean Jones, em Se Meu Fusca Falasse. Aliás, Carros, a animação da Pixar de 2006, mostrando os competidores de Stock Cars, é inspirado no curta da Disney Suzie – O Pequeno Cupê Azul.
Mesmo com a alta tecnologia que consegue colocar o espectador atrás do volante de um bólido da Fórmula 1, são poucas as boas produções que mostram os bastidores das competições de alta velocidade. Em 1990, após o sucesso de Top Gun – Ases Indomáveis, Tom Cruise se transformou no astro das pistas de Stock Car com Dias de Trovão. Não fez o sucesso imaginado pelo estúdio, mas mostrou que Cruise tinha aberto o caminho para os filmes de ação.
Sylvester Stallone até que tentou mostrar sua fama como um corredor veterano de Fórmula 1, em Alta Velocidade, lançado em 2001. Mas o filme abusou dos efeitos visuais, enquanto o diretor Renny Harlin, que havia trabalhado com Stallone em Risco Total (1993), esqueceu de deixar a história mais humana. Fiasco nas bilheterias.
Já o diretor Ron Howard decidiu mostrar um dos poucos duelos nas pistas, em Rush: No Limite da Emoção (2013). Ron conta a histórica rivalidade entre o piloto inglês James Hunt (Chris Hemsworth) e o sueco Niki Lauda (Daniel Bruhl), durante o campeonato de F1 de 1976. O título original faz referência na volta de Lauda para as pistas, após um acidente na etapa de Nurburgring, na Alemanha, onde o piloto sofreu queimaduras no rosto e inalou gases tóxicos. É um grande momento do esporte, retratado com competência por Ron Howard.
A lista de filmes sobre corridas ainda tem exemplos curiosos como Ford Versus Ferrari, de 2019, mostrando como a Ford, por meio de seu modelo Mustang, entrou na briga em Le Mans para ser mais poderoso do que a Ferrari, na corrida de 1966. Há também o curioso filme do cineasta alternativo Paul Bartel, Corrida da Morte – Ano 2000, no qual David Carradine compete numa corrida pelos Estados Unidos num futuro distópico. Detalhe: os corredores podem eliminar qualquer obstáculo para continuar correndo, mesmo que isso sejam pedestres ou torcedores afoitos. Cada morte, ganha pontos. Qualquer semelhança com a franquia de videogame Grand Theaf Auto não é coincidência.
Agora, o foco do público é ver Brad Pitt sendo o mentor de um jovem piloto interpretado por Damson Idris. A relação dos dois é o foco principal da história, mas a direção de Joseph Kosinski dá o tom exato entre drama e adrenalina. Afinal, ele foi o comandante da missão cinematográfica de Tom Cruise, o sucesso bilionário Top Gun – Maverick, de 2022.
Será que vamos ver outro sucesso a mais de 300 quilômetros por hora? Não prenda a respiração e deixe a adrenalina circular…
Paulo Gustavo Pereira