O CEO da Paramount Skydance, David Ellison diz que a proposta de quase 83 bilhões de dólares da Netflix é pouco e oferece mais 18…

Um dos primeiros momentos da filosofia de vida de Don Corleone, feito com maestria por Marlon Brando em O Poderoso Chefão (1972), é oferecer ao produtor de um filme uma proposta que ele não vai recusar. A cena do cavalo é icônica.
Sem sangue ou cabeças de cavalo, o que estamos vendo hoje nas já tensas negociações na venda da Warner Bros. Discovery é o que os americanos chamam de hostile takeover, uma aquisição hostil, em que uma empresa, no caso a Paramount Skydance, decide ignorar a proposta que a Netflix fez para a compra da WBD, e oferece diretamente para os acionistas da empresa algo muito melhor financeiramente.
O que, inicialmente, era um leilão de negócios, transformou-se numa guerra de lances bilionários, em que o prêmio é o controle total da Warner Bros. Discovery. Os participantes iniciais eram a Paramount Skydance, a Netlix e a Comcast. Na semana passada, os advogados da Paramount mandaram um comunicado para o controle de arbitragem da operação, informando que estava havendo uma certa parcialidade da Warner em favor da Netflix.
Na quinta-feira, 4, o The New York Times, Variety e The Hollywood Reporter informaram que a Netflix ofereceu e levou a empresa por quase 83 bilhões de dólares. A notícia deixou David Ellison, CEO da Paramount Skydance, frustrado, já que desde o começo das negociações, ele estava decidido a oferecer o que fosse para conseguir o controle da WBD em sua totalidade. Em tempo: a Netflix ficaria nessa operação com os estúdios e o canal streaming, abrindo mão dos canais de TV lineares.
Nesta segunda, 8, Ellison tirou a luva de pelica e jogou na mesa das negociações com toda a energia possível: ofereceu aos acionistas da Warner Bros. Discovery 30 dólares por ação, o que deixaria a venda com o valor final de 108 bilhões de dólares pela compra integral da empresa. Num comunicado oficial distribuído à imprensa, Ellison afirma que “a oferta da Paramount pela totalidade da WBD oferece aos acionistas US$ 18 bilhões a mais em dinheiro do que a oferta da Netflix”.
David Ellison vai mais fundo dizendo que “os acionistas da WBD merecem a oportunidade de considerar nossa oferta, que é superior, totalmente em dinheiro, por suas ações em toda a empresa”. Ele afirmou ainda que a oferta da Paramount Skydance é pública e “tem os mesmos termos que apresentamos ao Conselho de Administração da Warner Bros. Discovery em particular, oferece um valor superior e um caminho mais seguro e rápido para a conclusão”.
No comunicado, Ellison diz que o Conselho de Administração da WBD está buscando uma proposta inferior, “expondo os acionistas a uma combinação de dinheiro e ações, um valor de negociação futuro incerto do negócio de TV a cabo linear da Global Networks e um processo de aprovação regulatória desafiador”. Isso significa que a Paramount Skydance está levando essa proposta diretamente aos acionistas, como manda as ‘regras’ de uma aquisição hostil.
Muito se fala que o futuro do cinema está no resultado dessa negociação, especialmente porque a Netflix vem afirmando ao longo dos anos de que o seu negócio é entretenimento dentro de casa e não numa sala escura. A pandemia acabou se revelando um forte argumento para a plataforma streaming, com a queda das bilheterias ao redor do mundo.
Para os mais antigos, o cinema está passando por mais um momento crítico como aconteceu com o Cinema Falado, a chegada da Televisão, o videocassete, o DVD, o Blu-ray, até o streaming. Nada supera a experiência de ver um grande filme numa tela gigante. Mas num mundo onde a nova geração assiste displicentemente a um filme na televisão enquanto ‘vê’ outra coisa no celular, a sobrevivência do cinema como arte e meio de comunicação é um novo desafio.
Aguardemos os novos capítulos de uma novela que deve durar mais tempo do que se imagina…
Paulo Gustavo Pereira




