Dois dos filmes mais indicados ao Oscar 2025, Emilia Pérez e O Brutalista, estão no centro de uma polêmica envolvendo o uso de inteligência artificial (IA). Ambos utilizaram a tecnologia para aprimorar performances vocais e visuais, levantando debates sobre ética e autenticidade no cinema. Mas afinal, essa escolha pode prejudicar as chances dessas produções na premiação?
O uso de IA em Emilia Pérez
O filme dirigido por Jacques Audiard se destaca como o mais indicado deste ano, mas enfrenta críticas pelo uso de inteligência artificial. Karla Sofía Gascón, que interpreta a protagonista, teve a voz aprimorada para os números musicais. Sua voz foi mesclada com a da cantora Camille, estrela pop francesa e co-autora das canções do longa, para aumentar o alcance vocal da personagem.
A decisão gerou um debate sobre autenticidade na atuação. Afinal, a performance da atriz indicada ao Oscar pode ser considerada totalmente sua, se parte dela foi alterada por IA?
O Brutalista e o uso de IA na pronúncia
O filme dirigido por Brady Corbet também está sendo comentado pelo uso de IA. O editor Dávid Jancsó revelou que utilizou a ferramenta Respeecher para ajustar a pronúncia em húngaro dos atores Adrien Brody e Felicity Jones. O objetivo era tornar as falas mais naturais, corrigindo dificuldades que os atores tiveram com determinados sons da língua.
“Se você vem do mundo anglo-saxão, certos sons podem ser particularmente difíceis de entender. Primeiro tentamos fazer a regravação desses sons mais difíceis com os atores em estúdio. Então tentamos fazer a dublagem deles com outros atores, mas isso simplesmente não funcionou,” revelou Jancsó.
Além disso, a IA foi utilizada para criar imagens na cena final, ajudando a compor desenhos e estruturas arquitetônicas projetadas pelo personagem de Brody, o arquiteto László Tóth. Segundo Jancsó, essa prática já era comum na indústria, mas a associação com IA gerou um novo nível de atenção e críticas.
A polêmica da IA em Hollywood
O debate sobre o uso da inteligência artificial no cinema não é novo, mas se intensificou nos últimos anos. Durante a greve do SAG-AFTRA e do WGA em 2023, um dos pontos centrais era a necessidade de regulamentação para proteger atores e roteiristas contra o uso indiscriminado da tecnologia.
Muitos profissionais temem que a IA substitua artistas ou seja utilizada para recriar performances sem consentimento, ameaçando empregos e carreiras.
IA pode afetar as chances dos filmes no Oscar?
Embora o uso da IA tenha ajudado na realização dos filmes, a questão ética pode pesar contra Emilia Pérez e O Brutalista na votação da premiação. A Academia, composta por profissionais da indústria, pode encarar essas inovações como ameaças à autenticidade do cinema. Por outro lado, se os eleitores enxergarem a IA apenas como uma ferramenta criativa, os filmes podem sair ilesos.
No fim das contas, dependerá de como a comunidade cinematográfica decidirá encarar o uso da IA: como uma inovação legítima ou como um risco à essência da sétima arte.