A Hora do Espanto | Um vampiro nos anos 80 

Lançado há 40 anos, A Hora do Espanto se consagrou como um dos melhores exemplos de que vampiros estão sempre na moda 

Filme A Hora do Espanto (Foto: Reprodução)
Filme A Hora do Espanto (Foto: Reprodução)

Na história do terror no cinema, o estúdio britânico Hammer conquistou seu espaço reformulando os clássicos do gênero feitos pela Universal nas décadas de 1930 e 1940. Versões mais densas de Frankenstein, A Múmia e do Lobisomem abriram o estúdio para o mundo, especialmente quando eles trouxeram a criação de Bram Stoker para o final dos anos 1950. 

O Vampiro da Noite, também conhecido como O Horror de Drácula (1958), foi o filme que impulsionou Hammer a fazer outros monstros do cinema, tendo em mente que eles tinham que ser diferentes para atrair o público. O Vampiro da Noite não apenas apresentava uma versão menos teatral como a que Bela Lugosi fez em 1931, mas apresentando o Conde Drácula como um intelectual que estava tentando se modernizar na Era Vitoriana.  

O detalhe que fez a diferença: o charme de Christopher Lee ao usar presas quando atacava suas vítimas, algo que o cinema americano usou pouco. 

Terence Fisher que, no ano anterior, havia dirigido A Maldição de Frankenstein, formou uma parceria entre Christopher Lee e seu colega Peter Cushing para vários filmes da Hammer. Não apenas fizeram vários filmes de Drácula e seu nêmese, o Dr. Van Helsing, como também produziram uma das mais memoráveis adaptações de Sherlock Holmes para o cinema, O Cão dos Baskerville, de 1959. 

Se quiser conhecer um pouco mais dessa parceria, assista no Looke a Os Ritos Satânicos de Drácula, no qual o conde vampiro tem seu derradeiro confronto com um descendente de Van Helsing, claro, feito pelo próprio Peter Cushing. Em tempo: para quem não sabe, o consagrado ator Peter Cushing foi escolha pessoal de George Lucas para interpretar o Governador Tarkin em Guerra nas Estrelas 4 – Uma Nova Esperança (1977). 

Passados quase 30 anos de O Vampiro da Noite, a Columbia Pictures apostou no projeto de Tom Holland, conhecido roteirista de Os Donos do Amanhã (1982) e o segundo Psicose (1983), de modernizar a clássica história de vampiro de Bram Stoker. A ideia era muito mais do que uma simples adaptação, era uma mistura de Janela Indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock, com a história clássica do menino que grita lobo e ninguém acredita nele. 

Aqui temos o jovem cheio de hormônios, Charley Brewster (William Ragsdale), que nota algo estranho na casa do novo vizinho. Ele comenta que viu uma garota bonita entrar lá e ir para o quarto do novo vizinho, que, até então, ele não sabia quem era. Seu amigo Evil Ed (Stephen Geoffreys) comenta a morte de uma mulher achada com a cabeça decepada. E aí começam os problemas de Charley. A morta era a mulher que ele havia visto com o vizinho e que acha que ele não é humano.  

Evil acha que ele tem um vampiro como vizinho e precisa se cuidar para não ser a próxima vítima. Charley volta para casa, sobe para o quarto, tranca a janela e volta para conversar com a mãe. Para sua assustadora surpresa, quem está conversando com ela é nada menos do que Jerry Dandrigde (Chris Sarandon), seu vizinho. Assustado, Charley pergunta à mãe como Jerry entrou lá, e ela, em sua santa inocência, diz que ela o convidou para entrar. Segue-se uma das frases icônicas sobre vampiros no cinema. Jerry diz “jamais entraria em sua casa se não fosse convidado”. 

A partir daí, temos uma avalanche de emoções, sustos e curiosas surpresas. A mais divertida delas, graças a um diretor que escreve muito bem suas histórias, é a visita noturna de Jerry para atacar Charley. Só que ele não quer que a mãe atrapalhe e lacra a porta do quarto dela, numa cena fantasticamente bem-feita, que termina com ela assoviando o clássico de Frank Sinatra, Strangers in the Night

O ataque de Jerry a Charley felizmente não encurta o filme. Por um golpe de sorte, Charley consegue escapar e vê na televisão do quarto a solução de seus problemas: Peter Vincent, o apresentador de um programa de televisão a cabo, A Hora do Espanto, que se autodenomina caçador de vampiros. A ajuda de Peter é fundamental, ao mesmo tempo que acaba expondo um lado complicado da história. A namorada de Charley, Amy (Amanda Bearse), é a imagem de uma antiga paixão de Jerry, transformando a garota na peça fundamental para transformar a vida de Charley num pesadelo sobrenatural. 

As cenas em que Amy é seduzida por Jerry são regadas a uma trilha sonora criada por Brad Fiedel, o mesmo que no ano anterior fez a icônica trilha de O Exterminador do Futuro. A cena da discoteca em que Jerry dança com Amy tenta mostrar que a garota está sobre a influência maligna de alguém mais adulto. Uma revelação que esse adulto é alguém incomum surge na própria dança, em que os espelhos que decoram o salão não mostram Jerry. E sabemos por quê. 

Em tempo, o figurino criado por Robert Fletcher, que fez as roupas do primeiro longa de Jornada nas Estrelas (1979), faz uma fantástica adaptação da tradicional capa do conde vampiro para um estiloso casaco. Assim como a roupa de Peter Vincent lembra o clássico casado duplo usado por Sherlock Holmes nos filmes imaginados da Era Vitoriana.  

O que transformou esse filme que ninguém apostava numa das maiores bilheterias do ano para a Columbia Pictures, foi, pasmem, uma boa história. Começa com o garoto curioso, que tropeça em algo muito maior do que ele poderia imaginar, e se vê metido num conflito sobrenatural com uma criatura nascida no século XV. O que poderia ser apenas mais um “filminho” de terror, transformou A Hora do Espanto num clássico moderno sobre vampiro. 

A energia de um diretor que sabia exatamente o que fazia, um roteiro que ele trabalhou modificando o conceito inicial de uma versão moderna do vampiro de Bram Stoker, combinando com um elenco quase desconhecido, A Hora do Espanto virou uma joia rara. Outra ferramenta que atraiu o público foi o trailer. Diferente de outros do gênero, o trailer de A Hora do Espanto segue o passo a passo de criar a curiosidade do público. Ele mostra Charley tentando fazer as pessoas acreditarem naquilo que ele supostamente viu.  

Foi isso que me levou a assistir ao filme antes de chegar ao cinema. A Hora do Espanto foi lançado em 2 de agosto de 1985. O filme só chegou nas telas brasileiras em maio de 1986. Só que o trailer começou a ser exibido nas telas brasileiras no final de 1985. Acabei pegando uma cópia pirata do filme numa locadora para conter a curiosidade e, claro, a ansiedade. Meses depois, fui ver A Hora do Espanto no cinema, onde vi pelo menos mais cinco vezes. 

No elenco, os dois únicos nomes conhecidos eram Roddy McDowall e Chris Sarandon. Roddy foi Cornelius em O Planeta dos Macacos (1968) e o médium assustado em A Casa da Noite Eterna (1973). O nome de seu personagem, Peter Vincent, foi uma homenagem de Tom Holland a Peter Cushing e Vincent Price. Enquanto Chris fez Leon, em Um Dia de Cão (1975) e o professor estuprador em A Violentada (1976). Uma de suas sugestões para o vampiro secular Jerry Dandridge foi mostrá-lo comendo maçãs, após ler um livro sobre o tipo de alimentação que os morcegos comem. 

William Ragsdale fez vários testes para ser aprovado como Charley, personagem que colocou sua carreira num outro patamar. Amanda Berse, que faz Amy, fez vários filmes até conquistar seu espaço na série Um Amor de Família, por dez temporadas entre 1987 e 1997. Enquanto Stephen Geoffreys, que interpreta o amigo geek Evil Ed, abandou o cinema convencional e seguiu a carreira de ator em filmes gays explícitos.  

A Hora do Espanto é uma grande homenagem ao terror, em que o objetivo não é assustar simplesmente. O susto vem da dúvida que Charley tem sobre o que terá que fazer para se livrar de um problema que ele mesmo criou. Não intencionalmente, é fato. Ao esbarrar numa criatura das trevas, que não tem compaixão por nada, acabou abrindo a porta para um inferno que ele não queria entrar.  

Um filme perfeito com um dos vampiros mais sensuais do cinema, não apenas dos anos 80. Jerry Dandrige é aquele vampiro que você não hesitaria em levar para casa, mesmo quando você descobre que sua vida não vale nada… é a hora do espanto, mesmo!  

Paulo Gustavo Pereira

https://www.looke.com.br/detalhes/127221

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