Suaves e Discretas | Diretora Beth de Araújo revela ideia ousada por trás do filme: ‘Nunca deixar o público respirar’ 

Suaves & Discretas
Diretora Beth de Araújo e Stefanie Estes em Suaves & Discretas (Fotos: Reprodução)

Adicionado recentemente ao catálogo do Looke, Suaves & Discretas é um thriller que gira em torno de Emily (Stefanie Estes), uma professora de escola primária que organiza uma reunião dentro de uma igreja com um grupo de mulheres conservadoras. Após serem expulsas do local, elas decidem continuar a reunião na casa de Emily, mas uma discussão no meio do caminho dá início a uma inesperada e violenta cadeia de eventos. 

Filmado quase inteiramente em plano-sequência, o longa chamou a atenção da crítica e do público ao apresentar uma narrativa intensa e, muitas vezes, desconfortável. Em entrevista exclusiva ao Pipoca Online, a diretora Beth de Araújo — cineasta norte-americana filha de pai brasileiro — falou sobre como surgiu a ideia para o filme e os desafios do processo de filmagem. 

Ao ser questionada sobre a origem do roteiro, Beth relembrou um caso que viralizou há alguns anos: um vídeo gravado no Central Park, em Nova York, no qual uma mulher branca filma um homem negro que observava pássaros e chama a polícia alegando estar sendo ameaçada por ele. 

“Quando vi aquele vídeo, ele trouxe de volta as sensações de todas as interações que tive com mulheres brancas nos Estados Unidos ao longo da minha vida. Isso me lembrou da experiência que tive com minha professora no segundo ano da escola. Foi um ano horrível para mim e para minha família”, revelou Beth. “Eu sabia que queria criar uma obra sobre uma mulher branca que tenta mobilizar um grupo. E então o resto meio que se encaixou.” 

Para a diretora, o vídeo acendeu um alerta sobre como o legado da supremacia branca ainda continua forte nos Estados Unidos. “Não só continuou, mas prosperou. Então eu queria explorar esse aspecto da questão. Como essas ideias estão, na verdade, mais presentes e permeiam a sociedade.” 

Ao optar pelo plano-sequência, Beth explicou que seu objetivo era intensificar o desconforto do público, conduzindo a trama de forma ininterrupta e imersiva. “Acho que quando você faz um corte em um filme, é como se isso desse ao público um momento para respirar. Os filmes funcionam assim, eles respiram, inspiram e expiram. Mas eu quis nunca deixar o público respirar… Queria que o público continuasse prendendo a respiração sob tensão.” 

As filmagens aconteceram ao longo de quatro dias intensos, em que toda a sequência do filme era registrada do começo ao fim a cada dia. No dia seguinte, Beth assistia ao material registrado, fazia anotações detalhadas e a equipe filmava tudo novamente — um processo que ela compara a “uma peça de teatro”. 

Sem dar spoilers, a diretora encerrou comentando o desfecho do longa, destacando a mensagem que desejava transmitir com ele: “Para mim, a questão do final é sobre o fato de que nós sobrevivemos. Coisas acontecem conosco, a justiça nem sempre é feita, mas ainda assim seguimos em frente. Essa é a ideia por trás disso.” 

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